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Ghost Interview

Data is the new Fitness

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Quem nunca quis encontrar um amigo para fazer exercício junto?! Aquele colega de corrida ou de dieta… E se o celular puder ser esse seu colega?! E, melhor, se a gente disser que isso também é uma tendência do mercado de tecnologia, das marcas e do varejo… O tal do phygital. Para explicar sobre isso, fomos atrás de Mike Lee, criador do app MyFitnessPal, um dos pioneiros do mercado de fitness para o smartphone.

O MyFitnessPal é um app criado antes mesmo de existirem os aplicativos de celular: em 2005, com a ideia de ser um espaço para controlar o cardápio do dia a dia, como num caderno. A ideia era ter um espaço para pesquisar, catalogar, entender e mudar os hábitos alimentares. Já em 2009, eles estrearam no iPhone e explodiram de crescimento, chegando a 80 milhões de usuários em seis anos. Nesse meio tempo, eles chamaram atenção da Under Armour, que comprou o app por US$ 475 milhões em 2015! E, até 2020, Lee foi Chief Data Officer e o App fez  parte da estratégia digital da Under Armour, gerando insights para produtos e espaço para a empresa se posicionar. Em 2020, eles chegaram a 200 milhões de usuários ativos, foram vendidos pela UA para a Francesco Partners por US$ 375 milhões e seguem no plano de expansão do uso. Lee, que saiu do comando do app – e da UA – em 2017, conta um pouco da sua experiência e visão de mercado:


Mike, conta para a gente, como e por que você criou o MyFitnessPal?

A ideia do aplicativo surgiu, na verdade, de uma necessidade pessoal. Minha esposa e eu estávamos nos preparando para nosso casamento na praia e ambos queríamos perder um pouco de peso. Fomos ver um preparador físico e ele nos deu um livro listando os valores nutricionais de cerca de 3.000 alimentos e um pequeno bloco de papel para rastrear nossas calorias. Eu programo desde os 10 anos de idade, então eu sabia que deveria haver uma maneira melhor de controlar minhas refeições e lanches, mas não conseguia encontrar nada online que fosse bom o suficiente. Cada produto digital no mercado naquela época era tão complexo e demorado para usar quanto o registro de alimentos naquele notebook. Então, eu construí minha própria solução e ela acabou se tornando o MyFitnessPal.(Entrevista à Parvati Magazine publicada em janeiro de 2016)

Sabemos que ele se iniciou completamente web, lá em 2005, e criando uma base de dados compartilhada, algo não muito comum para a época. E na parte do desenvolvimento mesmo, como rolou?

Foi quase como começar do zero. Construí o site inteiro sozinho, pesquisando como um louco no Google, tentando fazer as coisas mais básicas, como listar arquivos em um diretório. Eu mesmo fiz o design. Era feio, para ser franco.

Em poucos meses depois do lançamento, começamos a receber fotos do antes e depois dos usuários. As pessoas adoraram tanto – até a minha primeira versão inicial que era tão simples. Comecei a trabalhar o dia todo e todas as noites e todo o fim de semana, apenas pela paixão de torná-lo melhor.

Estávamos muito desconexos. Mas começamos a crescer apenas por meio do boca a boca.

Não houve marketing pago. Não houve truques virais estranhos. Apenas nos concentramos em: como ajudar nossos clientes a terem sucesso.(Entrevista à Inc. publicada em 11 de dezembro de 2014)

Como você escolheu quais plataformas selecionar e quais ignorar ou esperar?

MyFitnessPal inicialmente começou como um site, que ainda está online hoje. Um site parecia um começo natural para a ideia, mas quando o iPhone foi lançado, isso mudou tudo. Nós vimos um crescimento explosivo no ecossistema de aplicativos do iOS, e percebemos que outros aplicativos de smartphones começaram a surgir em nosso espaço, então sabíamos que um aplicativo MyFitnessPal era o próximo passo lógico. Meu irmão Al se juntou a mim no começo de 2009 para gerenciar o desenvolvimento e revisar o projeto, e nós lançamos o primeiro aplicativo iOS no final daquele ano.

(Entrevista ao LifeHacker em 19 de março de 2014)

E como foi o lançamento do app – em comparação ao lançamento “oficial” do MyFitnessPal?

O lançamento inicial foi realmente um pequeno lançamento para amigos e familiares. Tivemos uma forte adesão na web, mas foi realmente o lançamento no iPhone em 2009 que nos ajudou a alcançar nosso primeiro milhão. Agora, todos os lançamentos que fazemos incluem novos recursos que os usuários pedem ou que achamos que seriam úteis para os usuários que adotam hábitos saudáveis.

(Entrevista ao LifeHacker em 19 de março de 2014)

Falando de negócios, o app começou se bancando, ou seja, fazendo o clássico bootstraping e vocês acabaram indo atrás de funding apenas em 2013. Como foi essa época inicial?

Nós sempre tivemos uma lista de mil itens que queríamos fazer, mas sempre podíamos fazer apenas 3 por vez. Com o tempo, fomos entregando os itens das coisas que estavam saindo da lista, mas ela só ficava maior. Por isso, acabamos indo atrás de funding, para poder fazer mais coisas ao mesmo tempo da lista e escalar o produto.

(Entrevista ao Techcrunch publicada em 12 de agosto de 2013)

Eis que veio a proposta da Under Armour, como rolou?!

Um pouco tempo depois da gente levantar o dinheiro em 2013, a Under Armour nos ligou [para ele e Albert Lee, o cofounder do App], a gente não estava querendo vender a empresa, tínhamos um negócio ainda em crescimento maluco, eles nos conectaram por meio de um dos nossos investidores. Eles nos perguntaram: hey, vocês querem vender a empresa para a gente?! E nós falamos não! Falamos que estávamos ainda em fase de crescimento! Eles seguiram com a proposta e chamaram a gente para encontrar com o CEO da empresa. Resolvi aceitar para conhecê-lo porque, bem, no pior cenário, eles poderiam nos oferecer algum tipo de parceria, o que seria ótimo para o app. E quando chegamos lá, fomos muito surpreendidos pela cultura da Under Armour, eles parecem uma startup de 10 mil funcionários, são super inovadores e pensam em escala, em crescer rápido. E, quanto mais descobrimos sobre a marca, sobre a história da marca, percebemos que fazia sentido topar. Eles souberam nos seduzir, e lentamente, percebemos que era um bom fit. Depois desse processo todo, quase numa de “jantares e dates”, chegar no preço foi bem mais simples.

(Entrevista para a Draper University publicada em 29 de abril de 2016)

Por que vocês não foram atrás de uma empresa de tecnologia, já que acabaram topando a aquisição?

Nós não queríamos vender para uma Google ou uma Apple, principalmente porque a gente queria ir para uma empresa onde nosso negócio importa. Não há nada de errado com o Google ou a Apple, mas se a gente fosse para uma empresa de tecnologia, a gente seria apenas uma pequena parte do negócio. Queríamos ir para um lugar onde a gente importa, onde o nosso negócio impacta a empresa.

(Entrevista para a Draper University publicada em 29 de abril de 2016)

Qual foi o racional por detrás da aquisição? Quais foram as descobertas que você teve ao começar a chefiar a área de dados por lá?

O grande racional para a aquisição era que tínhamos uma comunidade de mais de 190 milhões de pessoas que sabíamos que estavam realmente engajadas com sua saúde e forma física, buscando fazer mudanças em suas vidas, buscando ter uma vida melhor. Esse era o cliente Under Armour, certo? Quanto mais podemos ajudá-los a atingir seus objetivos, mais podemos ajudá-los a ter uma vida melhor. Esperamos que quanto mais afinidade com a marca eles tenham por nós, mais eles percebam como nossos produtos, ou outros produtos possam ajudá-los a ter sucesso. Essa é definitivamente uma grande parte do motivo de estarmos nesse espaço.

(Entrevista à PCMag em 10 de janeiro de 2017)

E quais tem sido as descobertas no mundo da Under Armour que podem vir para o MyFitnessPal?

O que estamos descobrindo é que estamos aprendendo muito com a forma como os atletas treinam, porque obviamente, eles são o ápice, tem casos de extremo esforço. Como eles pensam sobre nutrição, como eles pensam sobre o sono e como eles pensam sobre a recuperação. Ao estudarmos esses atletas, o que descobrimos é que pessoas normais precisam das mesmas ferramentas. Eles apenas usam elas de diferentes maneiras. Por exemplo, a nutrição. Se você é um atleta de elite, você está pensando sobre suas proporções de macronutrientes, está pensando em potássio e magnésio, etc. Mas você precisa de um cardápio, precisa que lhe digam o que comer. Você precisa comer em proporções corretas. Se você é uma pessoa comum, pode não se importar muito com o potássio ou magnésio, ou qualquer outra coisa, mas você ainda precisa de orientação. Você precisa desse mesmo plano de alimentação. O que devo comer? Quais são as coisas que são boas para mim baseado na minha necessidade dietéticas? O mesmo conjunto de ferramentas é útil para ambos os segmentos, o que nos deixa realmente entusiasmados com a possibilidade de aproveitar essas inovações e levá-las às massas.

(Entrevista à PCMag em 10 de janeiro de 2017)

Você pode explicar um pouco mais o que o MyFitnessApp, de fato, faz?

Com 90 milhões de usuários e 5 milhões de alimentos em seu banco de dados, os usuários do MyFitnessPal podem monitorar com precisão e eficiência sua ingestão calórica e acompanhar sua atividade física. Também temos uma comunidade muito ativa e encorajadora que o ajuda a se sentir responsável, como se você tivesse milhões de amigos nesta jornada com você.

(Entrevista à Parvati Magazine publicada em janeiro de 2016)

E como o app usa dados para dar o retorno para o usuário?

Por meio de nossa coleta de dados, criamos um ciclo virtuoso: os usuários adicionam e melhoram nossos dados de saúde e expandem nosso banco de dados de alimentos, usamos esses dados para melhorar o produto e mais sucesso leva a mais usuários, o que leva para ainda mais dados.

Embora não possamos fornecer todos os recursos por conta própria, estamos sempre fazendo parceria com outros aplicativos e gadgets de saúde e fitness para integrar recursos úteis com o MyFitnessPal. Na verdade, atualmente integramos com 80% dos dispositivos de fitness vestíveis no mercado, com 4 dos 5 principais aplicativos de rastreamento de atividade por GPS – essas interações permitem que o usuário consiga visualizar os seus dados de saúde dentro do contexto, e conseguindo comparar com as suas metas pessoais.

(Entrevista à Parvati Magazine publicada em janeiro de 2016)

Qual área de tecnologia que mais te anima?

Pessoalmente, eu acho que o “quantified self” é fascinante. A quantidade de dados que nós conseguimos coletar sobre nós mesmos está explodindo. O que me anima é entender as possibilidades que esses dados podem gerar para nós mesmos. Nós saberemos muito mais sobre a gente, sobre os lugares que vamos, e sobre o contexto todo, e isso poderá nos trazer insights personalizados – além de abrir espaço para sugestões igualmente personalizadas e contextualizadas. Eu acredito que isso pode mudar o jogo para a criação de hábitos mais saudáveis.

(Entrevista à revista Fortune em 11 de março de 2014)

E agora, com a onda de novos devices para monitoramento de saúde – como o Fitbit (da Google) e o Halo (da Amazon), os aplicativos ainda são indispensáveis para a criação de hábitos saudáveis?

Acho que aplicativos certamente desempenharão um papel importante, mas não sei se são apenas aplicativos. Em geral, não tenho dúvidas de que a tecnologia será uma parte bem grande da mudança de hábito das pessoas para torná-las mais saudáveis, mas não se trata apenas de apps ou apenas de hardware. Acho que serão esses componentes vindo combinados, que vão envolver a pessoa no mundo da Saúde.

(Entrevista na Fit Tech Summit em 2019, publicado no canal oficial do YouTube da Burda Boot Camp em 2 de julho de 2019)

Qual conselho você daria para outros que querem empreender e começar uma jornada como a do app que você criou?

O mais importante é apenas começar – não há um momento melhor do que o presente e você nunca estará completamente preparado para o que vai vir. Eu queria ter começado a empresa bem antes, porque eu aprendi muito mais rápido ao mergulhar no que estava fazendo do que aprendi enquanto esperava o timing perfeito aparecer.

(Entrevista ao LifeHacker em 19 de março de 2014)

Se você pudesse fazer uma coisa diferente em toda a trajetória do MyFitnessPal, o que seria?

Eu iria me concentrar em apenas uma feature e em fazê-la 100% bem. Especialmente no começo, como fundador, você normalmente perde um pouco de foco pois está distraído com as milhares de coisas acontecendo ao mesmo tempo.

(Entrevista após Tech Summit 2019, publicada pela Hubert Burda Media em 4 de junho de 2019)

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