Nada melhor do que começar o ano com a energia lá em cima, e ninguém melhor para ajudar nisso do que Will Smith. Sorte nossa que ele começou a investir em tecnologia em 2018, então achamos uma boa desculpa para trazê-lo para o Sumer Ghost.
Falando sério agora: Will foi co-fundador do Dreamers VC, fundo que começou com US$ 100 milhões na conta. Dois anos depois, o Dreamers já investiu em mais de 40 startups, entre elas a fintech Step – que foca na educação financeira de adolescentes;a Sandbox, companhia que cria VR para jogos e entretenimento, bem como investem nas já conhecidas, a Neuralink e a Boring Company, de Elon Musk. A única coisa que as empresas precisam ter para chamar a atenção de Will? O objetivo de consertar algum problema social grave do mundo. Dá uma lida sobre como o ator mais versátil de Hollywood vê tecnologia e o futuro do Dreamers:
MORSE: Will, antes de se aventurar no mundo das startups, você foi rapper nos anos 80, ator de televisão nos anos 90 e de cinema nos anos 2000, como você viu a evolução da tecnologia? Qual a sua visão do segmento hoje em dia?!
Will Smith: Quando estava começando [no rap, em torno de 1985], a maior tecnologia que eu entrei em contato foi o Midi – a Musical Instrumental Digital Interface. Foi a primeira vez que conseguimos colocar duas batidas diferentes juntas e sincronizar músicas. Parece algo dos Flintstones falando agora, onde as pessoas podem gravar música no celular, mas foi algo estrondoso para mim.
Quando comecei no meio de entretenimento, a falta de tecnologia era um enorme obstáculo criativo, você até podia ter uma ideia e, literalmente, poderia demorar um mês para tirar a ideia da cabeça e colocar em algo que você pudesse escutar, com música. Em filme, era impossível. Se tivesse imagens na sua cabeça, tinha recursos muito limitados para transformá-las em realidade rápido. Então duas coisas aconteceram: com o rap music, apenas os melhores dos melhores conseguiram chegar lá. O que acontece com a tecnologia [no rap], é que ela democratizou a entrada de pessoas na música, mais pessoas entraram, mais músicas chegaram ao público, mas tem uma qualidade um pouco menor ao que chega ao público.
A tecnologia é uma necessidade absoluta para avançar a imaginação humana. Porque ideias maravilhosas podem morrer dentro das pessoas. Eu lembro que, uma vez, o Marvin Gaye disse algo muito frio: que ele sentia uma dor por ter uma música dentro da sua cabeça, mas não conseguia tirá-la de lá. Acho que essa dor faz parte do ser humano E, para mim, a tecnologia é um facilitador para que a gente consiga explorar a nossa criatividade e para a gente ir atrás da nossa imaginação, sabendo que nós nunca iremos alcançá-la de verdade.
MORSE: Como comentou do Japão, sabemos que foi a partir de uma parceria com o jogador de futebol japonês Keisuke Honda que você criou o Dreamers VC. Conta um pouco dessa história para a gente?
Will Smith: Eu me encontrei com Honda e nós nos demos bem imediatamente. Nós conversamos muito sobre essa intersecção muito bonita entre poder criar negócios, mas também manter o foco na solução de problemas do mundo.
Nossa amizade cresceu e Keisuke já tinha algum tipo de relação com bancos no Japão, e esses bancos estavam interessados em investir nos EUA. A relação funcionou. E eu já tinha investido antes, ele também, nossos valores estavam alinhados. Então resolvemos nos juntar, mas muitas pessoas entraram no barco. A gente já investiu em empresas como a Just Water [que vende água em garrafas de papelão para evitar desperdício de plástico], e também na Boring Company [de Elon Musk]. Queremos fazer bem ao fazer o bem.
MORSE: Então conta um pouco mais pra gente, Will, no que você está de olho na hora de investir e, principalmente, como você se vê como o ‘cara da grana’?
Will Smith: O mais interessante de trabalhar em parceria com o Keisuke é que ele fica em Tóquio, então a gente está tentando expandir nossa visão para um olhar mais global das startups. A colaboração é algo que estamos mesmo muito animados para fazer acontecer: como unir pessoas de diferentes lugares para levar tecnologias positivas para o mundo.
Somos abertos como fundo, mas, pessoalmente, tem alguns assuntos que sou mais inclinado [a investir]: storytelling, educação e artes são assuntos que olho a fundo.
E, bem, como investidor eu sou facilmente excitável.
MORSE: Sabemos que o Dreamers VC já investiu em uma série diferentes de startups, desde e-sports até de educação financeira, passando por VR e firmas de sustentabilidade, poderia nos dar um exemplo de um tipo de pitch que chama a sua atenção?
Will Smith: Esse foi um pitch e um storytelling que me chamaram atenção a ponto de eu investir US$ 10 mil na hora na Socionado:
Kofi Frimpong (co-fundador da Socionado): Você sabia que 70% das pessoas checa as mídias sociais da sua empresa antes mesmo de mandar o currículo para uma vaga disponível nela? Por quê isso? Porque para atrair o melhor talento e engage e manter os melhores funcionarios, as companhias tem que se empenhar efetivamente em criar showcases das suas culturas. E, por uma taxa mensal bem possível, a Socionado personaliza e liga empresas com times freelancers de branding de recursos humanos que criam conteúdos para showcases para divulgar a cultura da companhia, diversidade dos times e ambiente de trabalho. Com mais de 250 times de freelancer, a Socionado quer contar as histórias por trás das pessoas e da cultura que fazem as companhias grandes. E estamos animados com essa indústria de US$ 10 bilhões que é a de tecnologia para recursos humanos.
MORSE: Will, quando saiu do colegial, você recebeu um convite para participar de um programa de “pré-engenharia” do MIT, mas preferiu seguir seu caminho no rap. A gente sabe que você continuou com um pé no lado empreendedor e inovador, poderia dividi-lo com a gente?
Will Smith: Eu sou um estudante de padrões. No meu coração, eu sou um físico. Eu olho tudo na minha vida tentando descobrir uma única equação, uma teoria de tudo.
E há vários padrões na nossa vida. Como por exemplo, os ganhadores de “melhor ator” no Oscar: quase 90% do tempo são fazendo personagens de doenças psiquiátricas ou figuras históricas, certo? Então você pode estar muito certo de que, se você quiser ganhar, como um homem ator (porque é diferente para atrizes), é esse tipo de filme que terá que fazer. Os padrões estão por todos os lugares, por qualquer razão.
MORSE: Por último, a gente sabe que você tem sempre bons conselhos para dividir nas suas redes sociais e até durante entrevistas. Como 2020 está logo no começo, que conselho você dá para o MORSE e nossos leitores?
Will Smith: Tem uma frase que eu gosto muito: falhe antes, falhe frequentemente e falhe ‘para frente’. É algo que me frustra perceber que tantas pessoas têm uma relação negativa com os erros, quando errar é uma parte enorme de ser bem sucedido. Você tem que ficar confortável com a falha, você tem que, de fato, procurar pelo erro. O erro é onde todas as lições estão, é onde a adaptação está, é onde o crescimento está. Pessoas de sucesso falham muito mais do que elas têm sucesso, elas tiram as lições do fracasso e usam a energia, a sabedoria para ir para a próxima fase do sucesso. Você tem que tentar, tem que viver no limite das suas capacidades, você precisa apostar e viver nos pontos que você tem quase certeza que irá errar. Praticar é uma forma controlada de errar, de descobrir quais são os seus limites. Errar ajuda você a reconhecer quais áreas você precisa trabalhar. Então é esse conselho que dou: falhe antes, falhe frequentemente e falhe ‘para frente’.
If you’re not making someone else’s life better than you are wasting your time. Your life will become better by making other people’s lives better.
– Will Smith